terça-feira, 29 de maio de 2012
2ª Oficina: Gênero Memórias Literárias
O QUE A VIDA TEM A NOS OFERECER
Texto memória de Jussara
O presente trabalho tem por objetivo entrelaçar as memorias de infância de uma educadora de uma escola pública da cidade de Terra Nova do Norte. Abri o armário dos anos e busquei, em cada prateleira, os planos não concretizados. Alguns amores não resolvidos saltaram da quina da gaveta. Novamente o amargo das lágrimas subiu pela garganta. Fiz um nó bem bolado com cada um deles, abri um saco plástico de cem litros e joguei dentro, bem ao fundo.
Foi quando meu braço esbarrou na caixa de lembranças. Infância, parentes, valores e descobertas se confundiram com adolescência. Em meio a amigos de escola, desaparecidos pelo traço da vida, momentos de desencontro comigo mesma desfilaram pelas sombras de versos amassados desprezados no auge dos hormônios. Destilando imagens, filtrei poucas gravuras, rasguei algumas paisagens e ateei fogo nos rostos indefinidos. Mais um tanto pro saco de cem litros.
Avistei os cabides com meus dias positivos e de glória, meus desejos irreais personificados perpetuando no espaço de um imenso rolo compressor de histórias, lembranças de uma infância contraditória, sofrida contada em meio a lágrimas e sorrisos, marcada pela saudade. Hoje, a maioria não me é mais necessária. Outros tantos valores escolhi e me esqueci de abrir espaço nessa caixa. Outros nós e mais calor das labaredas a consumir o que conquistei. Tornado pó, engolido pelos trilhos da vida.
Prateleiras de vidro vazias. Armei fogueira com meu conhecimento das artes, literatura, cinema, esporte e tudo o mais que com orgulho organizei e adquiri; nela vomitei a bílis de minhas noites longas em um colchão duro e minhas solitárias manhãs no caminho de casa até a escola, com meu caderno no saco plástico de arroz andava, andava entre a mata fechada. Minha mente ferveu ao lembrar como eu era tímida agressiva e solitária. Não querendo demonstrar fragilidade a ninguém muito menos ao professor Pedro.
Vista e viva, a magenta toma toda a forma de minha mente: restou-me somente o verbo amar. Sons, odores, sabores e cores. Banhei-me na lembrança da plantação de café que eu ajudava meus pais desde muito cedo, dos orgasmos escondidos, por não ter tempo de brincar e me distrair, pois não tinha nem um tipo de brinquedo somente as bonecas de milho quando eu pegava escondido, porque não podia desperdiçar era dali que saia o pão para por a mesa e eu muito menina, mas já sabia disso. Então aspirei todo o ar aparente, bati as portas do armário da minha vida ao lembrar-se de quando deslizava as costas e sentava no chão a espera ansiosa de ouvir o programa da radio Nacional o programa de Edelso Mora e Marcia Ferreira, pois isso era a única diversão que eu tinha, ficava atenta até a última palavra do programa.
Então foi assim toda minha infância pobre sem compartilhar com ninguém meus sentimentos. E ao trancar o armário de minhas lembranças esqueci a chave da memória dentro, então no meu dia dia ao ver alguém muito retraído me recordo o quanto eu era só.
ANDRESA CARVALHO DA SILVA
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